Assegurados trabalhos arqueológicos na empreitada de construção de uma moradia em Lavra
Analisar os impactes no património arqueológico na Rua da Antela, na União das Freguesias de Perafita, Lavra e Santa Cruz do Bispo, no concelho de Matosinhos, decorrentes da construção de uma moradia, foi o objetivo dos trabalhos arqueológicos concretizados pela Riportico Engenharia, que procedeu inicialmente a um conjunto de sondagens de diagnóstico para aferir o potencial do subsolo.
Face aos resultados obtidos foi determinada a decapagem mecânica da área de implantação da moradia com meios adaptados até ao substrato geológico ou níveis arqueologicamente preservados, com a última fase a consistir na escavação de todos os contextos arqueológicos que se viessem a identificar no decurso da decapagem mecânica, minimizando o impacte negativo da construção e procedendo à conservação pelo registo.
Os trabalhos decorreram no passado mês de julho e, face aos resultados obtidos, que proporcionaram a identificação de interfaces negativos antrópicos escavados no substrato local associado a materiais arqueológicos de cronologia proto-histórica e romana, ficou determinada uma nova avaliação da área de implantação da moradia, com decapagem integral até ao substrato ou outros níveis arqueologicamente preservados.
A intervenção ao nível dos trabalhos arqueológicos demonstrou algumas evidências claras no que concerne à ocupação do espaço: existência de dois momentos de ocupação humana provenientes da Idade do Bronze e do tempo Romano.
As evidências da Idade do Bronze revelam uma ocupação doméstica da qual permanecem os vestígios das estruturas negativas e algumas indiciadoras de espaços cobertos em materiais perecíveis. Já em relação à ocupação romana, corresponde a uma via de circulação, marcada no substrato e amplamente trilhada face ao desgaste que o substrato granítico mais compacto apresenta. A sua orientação, grosseiramente de Noroeste para Sudeste, acompanha a plataforma rochosa, no seu contacto com as argilas que pautam o vale e os territórios alagadiços.
Esta via deve ser situada, para já, apenas conjeturalmente, numa relação de contemporaneidade com as cetárias existentes na costa, a curtas centenas de metros, correspondendo a uma via de circulação maioritariamente económica para escoamento dos produtos e ligação ao sistema viário romano, em especial a via de Bracara a Cale, mencionada no Itinerário de Antonino.
O aterro dos sulcos com cascalho grosseiro, pedras de pequena e média dimensão e elementos de construção romanos demonstram uma preocupação de manutenção da via, conservando um piso minimamente regular e seco, permitindo a contínua circulação de bens e pessoas. O uso de materiais de construção é algo que ainda hoje se faz em caminhos rurais e pressupõe a existência de edifícios em ruína ou alvo de reformulações arquitetónicas na envolvente.